Hoje é dia da Baiana

 

 O dia da Baiana foi instituido por razões político-econômicas e visava difundir a Bahia nas principais capitais brasileiras. Escrevi um artigo sobre o tema, publicado na Revista da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, que descreve a trajetória destas trabalhadoras urbanas. “A Baiana do acarajé: imagerns do real e do ideal”, por ser um pouco longo, foi dividido em três partes. Quem se interessar e quiser conhecer melhor as “baianas do acarajé” pode ler aqui, aqui e aqui.

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Centenário de Jorge Amado – Mostra mergulha na vida e na obra do escritor baiano

A partir de hoje, 09 de agosto às 19h, o público baiano poderá participar da abertura da exposição “Jorge, Amado e Universal”, em cartaz no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). A mostra, aberta até o dia 14 de outubro, já passou pelo Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, e atraiu mais de 130 mil pessoas.

Salvatore Carrozzo

Tereza, Flor, Gabriela, Dora. São muitas e diversas as mulheres de Jorge Amado (1912- 2001). Assim como os homens: Nacib, Vadinho, Pedro Arcanjo… Eles habitam os romances e o imaginário de leitores no Brasil e no mundo. Todos saídos da cabeça inventiva do autor, que por sua vez também não era um só.

As diversas facetas de Jorge – o escritor, o marido, o pai, o político, o amigo, o viajante – são a tônica da exposição Jorge Amado e Universal, um dos destaques da programação do  centenário de Jorge, comemorado amanhã. A mostra tem abertura para convidados, hoje, e para o público, amanhã. Depois de estrear no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, chega ao Museu de Arte Moderna da Bahia, no Solar do Unhão.

Quem é Jorge?

Para um nome forte da literatura, um time de peso. A direção geral é de William Nacked, que produziu as exposições sobre Clarice Lispector (1920–1977) e Gilberto Freyre (1900–1987) no Museu da Língua Portuguesa. A cenografia é de Daniela Thomas e Felipe Tassara; e a parte multimídia foi desenvolvida pela O2 Filmes, do cineasta Fernando Meirelles.

“Quando nós começamos a montar a exposição, eu disse: ‘ninguém conhece Jorge’. Me chamaram de louco. As pessoas conhecem algumas obras de Jorge Amado. Com a mostra, vamos apresentar quem é esse Jorge, essa Bahia, esse Brasil, esse mundo”, afirma o diretor, em referência ao contexto sócio-histórico.

Jorge Amado e Universal foi dividida em módulos. O primeiro é dedicado aos personagens, como Gabriela e Nacib (Gabriela, Cravo e Canela), Pedro Arcanjo (Tenda dos Milagres) e  Antonio Balduíno (Jubiabá). O segundo espaço apresenta a faceta política do autor, que foi eleito deputado federal por São Paulo no ano de 1945, pelo Partido Comunista Brasileiro.

Há ainda espaço para a malandragem e a sensualidade presentes nos livros, depoimentos de amigos, artistas e críticos, além de uma cronologia da vida do escritor. O visitante pode ver curiosidades, como fotos de Jorge Amado com sua mãe, Eulália Leal Amado; e escritos originais de Tieta do Agreste.

O custo da exposição, em São Paulo e na Bahia, foi de R$ 3 milhões, metade foi captado com patrocínio via Lei Rouanet. O plano é fazer com que a mostra fique circulando até 2014. No Brasil, já estão definidas duas cidades: Recife – local da próxima etapa – e Rio de Janeiro. Paris, na França, Frankfurt, na Alemanha, e Porto, em Portugal, estão em fase de negociação.

Múltiplos

A cineasta Cecília Amado, neta de Jorge, é só alegria para falar da exposição. “Está incrível. Deram um olhar contemporâneo, de modo a aproximar meu avô das novas gerações. É uma exposição sensorial bem completa, todos os detalhes, os sons. Tem até cheiro de cacau torrado”, observa.

Em pouco mais de dois meses, a mostra foi vista por 143 mil pessoas em São Paulo. E a amadomania ultrapassa o Brasil. Neste ano, aumentou o  número de pedidos de editoras estrangeiras interessadas em editar sua obra.

Para a exposição, a equipe do MAM preparou uma programação com debates, oficinas, contação de histórias e ações voltadas para o público infanto-juvenil. As atividades podem ser conferidas em www.bahiamam.org. “Quem for na exposição vai entrar com um Jorge na cabeça e sair com vinte”, afirma William. Bem que dizem: toda leitura é, na verdade, múltipla.

Fonte: MAM e Correio da Bahia

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“Ah, eu não sabia, que a ditadura voltaria pra Bahia!”

O presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Marcelo Nilo (PDT), revelou, em entrevista coletiva realizada em seu gabinete, na tarde desta segunda-feira (16), que pedirá a reintegração de posse da Casa no Tribunal de Justiça (TJ-BA), caso os professores grevistas não desocupem o saguão Deputado Nestor Duarte, até às 17h05. Ele informou que tentou contato com a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), mas não obteve êxito. “A Casa precisa voltar à normalidade. Eu tentei conversar com o sindicato, mas eles não me receberam por telefone”, argumentou o deputado, que já solicitou à Casa Militar da AL-BA que comunicasse a determinação ao movimento.

Segundo Nilo, se for confirmada a resistência prometida pela APLB, será solicitado o corte de água, luz e telefone do espaço. Indagado se há a intenção de pedir reforço policial para que os docentes saiam do espaço, o parlamentar disse que a decisão será do TJ. “Isso não é comigo”, pontuou. A categoria está na AL-BA desde o último dia 18 de abril, sete dias após o movimento, que já dura 97 dias, ser iniciado.

Fonte: Bahia Notícias

 

Vejam o vídeo com a reação dos professores:

Aniversário de Salvador – 463 anos

 

BAHIA DE TODOS OS SANTOS

 

A Jorge de Lima

Bahia, minha Bahiazinha,

vou escrever hoje o teu poema, terrinha do meu coração!

Bahia de Todos os Santos,

és u’a morena preguiçosa,

certas horas, dormindo descuidada,

na rede azul que o mar balança.

Não usas, mais, morena, o pano-da-costa listrado

preto e branco,

vermelho e amarelo.

Mãe-natureza te deu um chalé de seda fina,

feito de espumas quentes e folhas verdes.

És faceira,

apetitosa,

e dengosa,

de seios túmidos e pontudos como jabuticaba, verdes e enormes.

Os palacetes Martins Catharino,

o velho e o novo, são as tuas pomas encardidas

que o sol morde com sensação,

o dia inteiro

Eu gosto de ti,

minha Bahia, porque és u´a morena educada,

que tudo sabe e tudo faz.

Eu gosto de ti, quando nos matos, nos candomblés,

tu te remexes devagarinho,

ou ligeirinho,

numa tontura,

numa luxúria,

desesperada.

Eu te amo no “Baiano de Tênis”,

quando te imposturas pra cima da gente.

És melindrosa, neste momento,

de ruge e pó no teu rostinho

estrangeirinho

                  de bangalô.

E mais me encantas,

quando te encontro

lá na cozinha,

encarvoada,

lambuzada

de azeite doce e de dendê.

Bahia,

o teu vatapá gostoso

está me parecendo, digo sério,

um manjar do céu. E foi provando-o

que o escritor disse que a Paris só falta

um vatapá baiano.

E me ri muito, naquela noite, na “Petisqueira”,

vendo um carioca almofadinha

comendo

e chorando com o ardor

da pimenta de cheiro

e da malagueta.

E todo sulista quer provar,

embora chorando, do teu efó apimentado,

deste caruru que sabes fazer com sururu,

e do vatapá doirado e do acarajé amassado por ti.

                Ai! minha Bahia, que coisa gostosa é acarajé!…

É um pomo de ouro,

          amarelinho,

          redondinho,

          delicioso,

que Ogum deixou pra gente.

O, acarajé, minha gentinha,

não tem, não tem aquele

gosto ruim de beijo chupado

que Jorge de Lima diz.

Um acarajé tem o gosto gostoso

de um lábio pintado de menina novinha.

E aquele ardor que nos fica na língua

foi a dentadinha que a menina nos deu.

Ai! Bahia!

as tuas frutas,

a laranja,

o araçá,

o caju,

a jabuticaba, o coco verde comido em Amaralina

foi Nosso Senhor que deixou cair do céu.

Bahia, Bahiazinha guerreira,

morena fértil que tem filhas bonitas, como o Brasil de Álvaro Moreyra!

Feira de Santana, (minha terra)!

           Cachoeira,

           terra do meu amigo

           Clóvis da Silveira Lima;

                          Santo Amaro

                          que faz lembrar

                          os não sei quantos filhos

                          que deixou aquele barão;

                                          Alagoinhas,

                                          onde mora o velho poeta Assis Tavares;

                                          Ilhéus,

          a menina orgulhosa e rica e vaidosa

          que só tem vestido de seda radium,

          enfeitado de madrepérola e lantejoila,

                    e arminho,

comprado às custas dos seus caxixes! …

Bahia!

Lá o sino tocou:

é a Bahia que vai rezar

lá na Sé,

na Catedral-Basilica,

em São Francisco

e no Bonfim.

E o convento da Piedade

e o de São Bento

são dois frades rezando,

com o capuz às costas.

“Dlindão!… dlão!…

dilindlão! dilindlão!…”

A Bahia é religiosa,

     ela crê em Nosso Senhor.

          Ela não tem inveja da França,

                porque tem Nossa Senhora das Candeias,

                       que apareceu a u’a menina

                                 da roça.

                                                           Bahia!

Estou ouvindo a música dos teus benditos alegres,

nas romarias que fazes às Candeias,

                    pelo rio

                    e pelo mar.

Estou vendo a ponte de São João,

que parece um braço magro de mulher velha e pelancuda,

fazendo carícia ao mar,

se balançando com o peso dos trens

                   que vão levar

                   os romeiros

                   aos pés da Virgem

                   Mãe

                            de Deus.

Me perdoa, minha Bahia,

o mal que te fiz,

fazendo mal o teu poema.

 

Publicado em Arco e Flexa, Salvador. I: 42-46, novembro de 1929.

 

Eurico Alves Boaventura

“O poeta baiano Eurico Alves Boaventura, nascido em 1909 na cidade Feira de Santana, faleceu aos 65 anos (1974) em Salvador. Rebelde participante da turma de Arco e Flexa, revista que congregou de 1928 a 1929, em Salvador, jovens escritores desejosos de acompanhar as transformações da vida literária no Brasil. O grupo liderado por Carlos Chiacchio, escritor de raízes simbolistas, reunia além de Eurico Alves Boaventura, os escritores Pinto de Aguiar, Carvalho Filho, Hélio Simões, Ramayana Chevalier, De Cavalcante Freitas, Queirós Jr. Da época agitada e alegre do Modernismo Arco e Flexa são datados os poemas de Eurico Alves.