A sabedoria de Guimarães Rosa

 

Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?
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“Felicidade se acha em horinhas de descuido…”
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“Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo”. 

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“Mas quem é que sabe como?

Viver… o senhor já sabe: viver é etcétera…”

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“Eu não sei quase nada, mas desconfio de muita coisa”. 

(Guimarães Rosa)

Aleilton Fonseca – Nhô Guimarães

Concebido como uma homenagem ao escritor João Guimarães Rosa, no cinquentenário de Grande Sertão: Veredas, o romance Nhô Guimarães, de Aleiton Fonseca, é um saboroso As Mil e Uma Noites sertanejo. Trabalhando a linguagem de forma imaginativa, Aleilton cria uma personagem que, ao narrar histórias e causos, em boa parte inspiradas no imaginário popular brasileiro e no vasto universo rosiano, relembra seu velho amigo Nhô Guimarães.

“O sertão vem a mim”, diz a narradora. “Acredite: o sertão vem a mim, todo dia mais. As histórias vêm: aqui se arrancham, almoçam e jantam, bem fartas, tiram madorna na rede, de prosa comigo. O senhor compreendeu o meu dizer? Elas vêm a mim, guardo os fatos, aceito: protejo, velo, resguardo, no meu firmar. Tomo conta de um tesouro.”

“Aleilton Fonseca resgata uma prosa cheia de beleza, cuja oralidade passa por um apuro formal que lhe filtra os cacoetes e excessos”, escreve nas orelhas Antonio Torres. “Mas sem abdicar do colorido, do ritmo e sabor das conversas num avarandado ou ao pé do fogão, para espantar o medo das assombrações, ou se livrar das más lembranças.” 

Destinado tanto a iniciantes quanto a iniciados na obra de Guimarães Rosa, Nhô Guimarães, de Aleilton Fonseca, é um romance-homenagem que segue seu próprio caminho. Como afirma Maria Lúcia Martins, neste romance “cada letra é sinal de rastro rasgado entre brumas de solidão e o vermelho do sangue”.

O  autor

Aleilton Fonseca nasceu em Firmino Alves, BA (1959), viveu em Ilhéus, Vitória da Conquista, João Pessoa, São Paulo, e reside em Salvador. Cursou Letras (UFBA), fez mestrado (UFPB) e doutorado em literatura (USP). Lecionou na UESB, foi professor na Université d’Artois (França), em 2003, e hoje atua na UEFS-Bahia. Publicou Jaú dos Bois e Outros Contos (1997), O Desterro dos Mortos (2001) e O Canto de Alvorada (2003). Co-organizou os livros Oitenta: Poesia e Prosa (1996), Rotas & Imagens: Literatura e Outras Viagens (2000) e O Triunfo de Sosígenes Costa (2004). Recebeu, entre outros, o  Prêmio Nacional Herberto Sales (ALB-BA, 2001) e o Prêmio Marcos Almir Madeira (UBE-RJ, 2005). É co-editor da revista de arte Iararana, correspondente de Latitudes, “cahiers lusophones” (França), membro da Academia de Letras da Bahia e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana. Acredita que a “literatura é uma sentença de vida; uma forma eficaz de conhecer profundamente o ser humano”.

 

Um poeta: Luís Pimentel

EU E ELA

Ela cuspiu nos meus sonhos

não reagi

              acordei.

Xingou mamãe de jamanta

fui até bom

              concordei.

Disse que eu era uma besta

compreendi

              mas chorei.

Gritou que tinha outro homem

fui imbecil

              duvidei

Provou que eu não existia

não discuti

              me matei

 

CANTO MENOR

           Para Antônio Brasileiro

 Eu que recitava

ser maior que o mundo,

hoje me concentro:

sou menor que a água.

Só que menos clara,

só que menos calma,

só que menos

e só.

       (Luiz Pimentel)

 

Luís Pimentel nasceu no sertão baiano, em 1953 entre Itiúba e Gavião. Mas, dizem as más línguas que ele é natural de Feira de Santana; talvez o seja, por afinidade e pelos amigos que tem ali. Jornalista radicado no Rio de Janeiro trabalhou em diversas redações de jornais e revistas locais, dentre eles, os jornais Última e Hora e Jornal do Brasil. Dirigiu e editou a revista Música Brasileira, publicação dedicada à memória e aos lançamentos da MPB. Fez parte de dois periódicos lançados por Ziraldo – Bundas e O Pasquim21. É autor de mais de 20 livros de poesia e  prosa. Atualmente é colunista de O Dia. Como escritor recebeu importantes prêmios por sua vasta e variada obra.

Obras do autor:

Aquele beijo que eu te dei (contos e crônicas, Ed. Antares, 1985); As miudezas da velha (Prêmio Jorge de Lima de Poesia, Ed. Clima, 1990. 2º Edição: Myrrha, 2003); Um cometa cravado em tua coxa – contos (Editora Record, 2003); Entre sem bater – Humor na imprensa, do Barão de Itararé ao Pasquim21 (Ediouro, 2004); O calcanhar da memória – Poesia (Bertrand Brasil, 2004); Declarações de humor (textos humorísticos, Fivestar, 2006. 1ª edição: Ed. Gavião, 1994); Com esses eu vou – de A a Z, crônicas e perfis da MPB (Editora ZIT, 2006); Contos escolhidos (Fundação Cultural da Bahia, 2006); Cabelos molhados (Contos. Ministério da Educação e Cultura, 2006); Noites de sábado e outras crônicas cariocas (Editora Leitura, 2007); Grande homem mais ou menos – contos (Bertrand Brasil, 2007; Fundação Catarinense de Cultura, Prêmio Cruz e Souza 2002)

 Para o público infanto-juvenil : O bravo soldado meu avô (Ed. Antares; 1984; Ediouro, 1995); Um menino chamado Asterisco (Globo, 1985; José Olympio, 1993); Hora do recreio (Antares, 1985; 2ª Edição, Myrrha, 2004); O ritmo da centopéia (Globo, 1986); Uma noite a coruja (Antares, 1986); Meninos de roça, cantigas de roda (Globo, 1987). Bié doente do pé  (Ao Livro Técnico); A fuga do cavalinho vermelho (José Olympio, 1989); Bié e a grande viagem (Ao Livro Técnico, 1992); Uma vez uma avó (Editora Lê, 1992); Bicho solto (Ed. Do Brasil, 1992); As roupas do papai foram embora (Ed. Record, 1992); A revolta dos dedos (Ao Livro Técnico, 1993); O chapéu de quatro pontas (Ao Livro Técnico, 1993); História do Bode Zé Pilão (Ao Livro Técnico, 1993); O peixinho do São Francisco (Agir, 1994); A gente precisa conversar (Ed. Lê, 1995); Incrível tribo pé-no-traseiro (Ao Livro Técnico, 1996); Barbas de molho (Ed. Dimensão, 1998); Sem essa de guerra (Ed. Coqueiro, 2003); O mosquito elétrico (Myrrha, 2004); Cantigas de ninar homem (Bertrand Brasil, 2005); Todas as cores do mar (Global Editora, 2007); Luiz Gonzaga (Moderna, 2007).