Feira do Livro atrai público de diversos municípios

 

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Um ambiente diversificado em que a leitura se destaca como a interseção que une, motiva e desperta o imaginário. Nos corredores e estandes, crianças e adultos se misturam em busca do que os livros são capazes de proporcionar.

Assim pode ser descrito o cenário da 7ª Feira do Livro – Festival Literário e Cultura, iniciado terça-feira (23) e que prossegue até domingo (28), com contação de histórias, palestras, apresentações culturais e muito aprendizado. As atividades são desenvolvidas na Praça João Barbosa de Carvalho, a Praça do Fórum, numa promoção conjunta da Uefs, Direc 2, Secretarias de Educação do Estado e do Município, Arquidiocese de Feira de Santana, Sesc e Fundação Egberto Costa.

As atividades e serviços oferecidos, bem como de pessoas que visitam os estandes, superaram as melhores expectativas. A professora da Uefs Anna Cristina Gonçalves, coordenadora geral da 7ª Feira do Livro, informou que também cresceu o número de visitantes de outros municípios, inclusive alunos de estabelecimentos de ensino que não se cadastraram previamente, “mas que são bem vindos”.

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Inserção

O menino Anderson Santos, de 9 anos, disse que nunca viu nada parecido e que gostou muito da programação. Já a professora dele, Adriane Leile, chamou atenção para o trabalho de inserção dos jovens no mundo da leitura. “Trazê-los para este espaço é uma forma de incentivar a buscar do conhecimento através dos livros. Muitos estudantes se identificaram com as histórias que ouviram aqui. Com a leitura conseguimos despertar sonhos”, finalizou.

A Feira também é uma oportunidade de promover encontros entre leitores e escritores. Foi o que aconteceu com o autor Luiz Ruffato, que recebeu o público para um bate-papo na quarta-feira (24). “Todo evento que tem como objetivo fazer circular ideias tem que ser incentivado. Precisamos estimular o hábito da leitura. Depois desse encontro, não importa se as pessoas vão procurar os meus livros. Quero que elas saiam daqui e busquem algum livro. Isso vai me deixar feliz”, garantiu.

A Feira do Livro Foto Bernardo Bezerra 25-09-14 (10)

Até domingo o público terá acesso a muitas atividades como as que estão previstas para Arena Jovem, novidade desta edição da Feira do Livro. Apresentações de street dance, oficina de grafitagem e de quadrinhos irão acontecer neste espaço, na tarde de sexta-feira (26) e manhã do sábado (27). Também estão previstos lançamento de livros, recitais e apresentações musicais com artistas da terra como Timbaúba e Cescé.

Confira a Programação:

http://www.uefs.br/portal/arquivos/programacao-7-feira-do-livro.pdf/at_download/file

A Feira do Livro Foto Bernardo Bezerra 25-09-14 (8)

Fotos: Bernardo Bezerra

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Maria Rita canta Pagu

 

 

Pagu

Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra, Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta, não sou freira nem sou puta
Porque nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é
bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem
Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem
Sou rainha do meu tanque, sou pagu indignada no palanque
Fama de porra-louca, tudo bem, minha mãe é Maria ninguém
Não sou atriz, modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima
Porque nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é
bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem
Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem
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Mudança de estação

 

A Primavera

Cecília Meireles

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

 

Texto extraído do livro “Cecília Meireles – Obra em Prosa – Volume 1”, Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.