Só se vê na Bahia…

 

 Para me fazer perdoar pela longa ausência (involuntária) publico hoje um clip produzido no verão passado pela TV Bahia. No mesmo estão incluídos três vídeos nos quais a mesma música é cantada com arranjos e artistas diferentes abordando aspectos originais da cultura baiana, do litoral e do interior do estado. Vale a pena ver e ouvir. Com um abraço forte, mesmo com um pouco de atraso,  Feliz Ano Novo!

 

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Libertação da poesia?

 

B Amigos e Grupo Hera

 

    Manifesto do Grupo Hera

 

“Não somos poetas de enredo – confiamos nas palavras.

As palavras: com sua carne e seu cerne, com suas roupas azuis e verdes e escarlates, com seus passos de dança no ar, sua mágica, máxima alvura, negror profundo.

Confiamos nas palavras que não dizem nada e nas que matam.

Porque somos eminentemente poetas, espécies de deuses, buscando domar o caos – o nosso e o vosso. As estrelas estão em paz onde estão.

Porque nossa matéria é o homem.

O homem no Universo, bem mais que entre seus pares: o homem consigo mesmo, a revolver-se, descobrir-se, odiar-se – o homem a perdoar-se e a apaziguar-se dos seus remorsos e iras.

Daí sermos terríveis, às vezes.

Duros, duríssimos, na nossa sede de compreender o próximo. De fazer aflorar a verdadeira alma das pessoas, suja de lama na maioria das vezes, mas a verdadeira.

E que fazer daqueles que temem defrontar-se consigo mesmo?

Já o dissemos, não?: não somos poetas de enredo.

A grande poesia, ao fim e ao cabo, não é acessível ao grande público – fato que, aliás, se dá independentemente da classe social, da formação mobralesca ou universitária, partido ou time a que se está filiado.

Perdoem-nos, pois, os tementes a si mesmos. E conservem-se nos seus cantos.

E, no entanto, como somos líricos!

Entre o que se convencionou chamar de Romantismo e o que ainda está por receber um nome: eis onde nos sentimos inseridos.

Precursores de um possível Século XXI, em que os verdadeiros poetas serão enfim saudados como os decifradores

dos mitos

esquecidos.

Os guias da Psique.

Profetas de nós mesmos, aguardamos solenemente as conclusões.

E contemplamos – atentem ao verbo: contemplamos – os boníssimos mistérios da natureza.

Não ao supérfluo.

Não ao mero artifício.

Não aos modismos.

Encomendamos nossa alma a Deus ou ao Diabo. Às multinacionais, nunca! Ah, os poetas do Rio e suas gloriazinhas de isopor –

Não aos padrões estéticos das metrópoles,

Não a essa arte que embevece “a todos”.

Abaixo esses conceitos que nos vendem a cada dia como se caracterizassem a literatura do nosso século.

Sobretudo nas universidades. sob a forma de teses para mestrado, manuais da mais pura literatura, etc e tal.

Mas tudo, tudo, tudo

Água passada. Estagnada. Estável.

Sossegada. Inofensiva. Marioswaldeana.

A poesia do próximo milênio abolirá todos os ismos.

E as Histórias da Literatura nem saberão mais onde encaixá-la.”

                                                                      Feira de Santana, setembro de 1982.

Assinado: Antonio Brasileiro, Roberval Pereyr, Juraci Dórea, Wilson Pereira, Rubens Alves Pereira, Washington Queiroz, Moacyr de Moura Freitas, Trazíbulo H. P. Casas, Elieser Cesar, Cremildo Souza, Fernando Hora, Pedro Carneiro, Antonio Gabriel E. de Souza, Marcos Pôrto.