Dois poemas de Carlos Barbosa

  

O ESPELHO 

de repente

soube

         ler nuvens

         ouvir pedras

         cantar silêncios

         sentir doçuras em farpas

de repente

não soube mais

         o caminho da pia

         o sentido das placas

         ligar a luz

         esperar

         rir

 de repente

nada mais acontecia

tudo era um só espelho

e nele você me ardia

               Carlos Barbosa

 

CENA DE RUA

 À moda de Manuel Bandeira

dez horas da manhã

 um homem arrasta-se na calçada

em frente ao prédio da reitoria

de cócoras

defeca

 limpa-se com a mão direita

que esfrega em seguida numa poça d’água

 no instante seguinte

o sinal abre para os carros

que fecham a cortina

do breve humano espetáculo

               Carlos Barbosa

 

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