Um poema de Adélia Prado

 

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

                                                            Adélia Prado

 

Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935; a poetisa escreveu seus primeiros versos aos 15 anos de idade, logo após a morte de sua mãe. Em 1953, terminou o curso de Magistério. Antes do nascimento da última filha, a escritora iniciou o curso de Filosofia.

O seu primeiro livro publicado foi Bagagem. Em seguida publicou “O coração disparado”, que foi agraciado com o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, “Terra de Santa Cruz”, “Os componentes da banda”, “Manuscritos de Felipa”, outros de prosa e poesia, e o mais recente, “Oráculos de maio”. Vários textos de suas obras serviram de base para a peça “Dona doida: um interlúdio”, estrelada pela atriz Fernanda Montenegro. Recentemente lançou o CD “O Tom de Adélia Prado”, onde recita versos de seu último livro

 

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