A Baiana do Acarajé: imagens do real e do ideal

 

 Parte III (Final)

A “baiana” no cenário da cidade

 

Em Bahia, imagens da Terra e do povo,[1] coletânea de crônicas publicadas originalmente na revista O Cruzeiro, Odorico Tavares, no capítulo dedicado à cozinha baiana, lamenta a escassez de bons restaurantes na cidade no início dos anos 50, elogia a cozinha das casas tradicionais e aconselha ao visitante que, não podendo usufruir de uma refeição em uma residência local de cozinha afamada, a procurar os restaurantes no Mercado Modelo, advertindo ainda: se o viajante “não é muito exigente e está entusiasmado pelo pitoresco, em muito pé de escada, nas Laranjeiras e no Pelourinho, encontrará quem faça uma moqueca bem feita”. Elogia as “baianas” Odília, “que vende a melhor cocada preta da Bahia” e Vitorina, instalada em frente ao bar “Anjo Azul”, no Cabeça, cujo acarajé “é o que há de melhor”. Pela descrição de Odorico Tavares presume-se que o número de baianas era expressivo e que as mesmas podiam ser encontradas facilmente em vários pontos da cidade: “Também em frente ao Elevador Lacerda , nas feiras populares, há quituteiras que fazem ótimos acarajés… No terreiro de Jesus, à tarde ou à noite, também se encontram ‘baianas’ sentadas à beira dos passeios, com suas vestimentas próprias, sua higiene impecável, preparado seus quitutes para boêmios, para transeuntes, altas horas da noite”[2].

Foto:   Everaldo Luis

Se a economia baiana havia atingido no início da década de 50 o máximo da letargia na qual mergulhara há quase 100 anos, a criação da Petrobrás representou o marco de uma nova era.

A “vocação turística” da cidade passou a ser explorada pela administração estadual e municipal, a implantação do Centro Industrial de Aratu alimentou os sonhos de modernidade de grande parte da população que via na chegada do progresso, a saída para as suas dificuldades e do ponto de vista cultural, o Reitor da Universidade Federal da Bahia, Edgard Santos, vai representar o grande passo para a realização de projetos extraordinários na área cultural.

O surto de transformação da economia estadual então deflagrado, como não poderia deixar de ser, e que se estendeu até as décadas de 60 e 70 com a implantação do Centro Industrial de Aratu, alcançou a cidade e sua Região Metropolitana, marcando-as profundamente.

Nessa época, opulência e pobreza, subdesenvolvimento e modernidade, exibiam-se insolentemente. Definitivamente, Salvador mudava de aspecto a partir da aventura industrial e da implantação dos projetos de modernização. Grandes cadeias de lojas passaram a dominar o setor comercial, que também deslocou-se do Centro Histórico para a região da Pituba e para as novas avenidas. Os shoppings centers recém instalados conquistaram a população que podia fazer compras sem se expor às dificuldades comuns do antigo centro da cidade. Tudo mudou, a cidade transformou-se e o setor turístico também recebeu um impacto muito grande à partir de então. Segundo Scheinowitiz,[3] a cidade antiga com estruturas arcaicas, a primeira cidade fundada na Terra de Santa Cruz, a Salvador das ruas estreitas e sinuosas, a cidade da poesia e do langor, a sonhadora e a mística, entra de vez no ritmo célere da modernização e um exército de operários fura os morros, cava túneis e constrói viadutos.

Em oposição à esse surto de modernização a sociedade brasileira, segundo Prandi[4] participará ativamente de um projeto de recuperação das origens que remete diretamente à Bahia. Valoriza-se a cultura negra, sobretudo a cultura negro-baiana e essa mudança de rumos seria determinada pelas classes médias, ou seja, pela intelectualidade brasileira de maior legitimidade dos anos 60. Além disso, da modernidade da Bossa Nova à Tropicália, os baianos lideram os movimentos renovatórios da música popular brasileira. A Bahia ganha espaço na mídia, fala-se do Cinema Novo e da literatura de Jorge Amado; as ialorixás são homenageadas por artistas em evidência no cenário artístico nacional. E as “baianas”? Que espaço elas ocupam no cenário “novo” da cidade?

Até 1975, as notícias que evocam a “baiana de acarajé” fazem referência, principalmente, à sua participação no cortejo da lavagem do Bonfim, aspergindo com água perfumada as cabeças dos políticos em voga. Em 1975, no entanto, publica-se matéria com o seguinte título: Baiana do acarajé será cadastrada pela prefeitura.[5] O texto inclui declarações de Waldeloir Rego, diretor do Departamento do Folclore, Festas Populares e Esportes da Prefeitura Municipal do Salvador, entidade fundada em 1973, justificando a medida como necessária para a preservação dos valores culturais, além de garantir um produto de qualidade, pois algumas baianas inescrupulosas estavam adulterando a massa do acarajé, acrescentando à mesma, farinha de mandioca e de milho, o que alterava o sabor e a consistência dessa iguaria.

Em julho de 1977[6], aparecem números oficiais da prefeitura de Salvador, mais precisamente do Departamento do Folclore, Festas Populares e Esportes da Prefeitura Municipal do Salvador, informando que cerca de quinhentas “baianas” estavam cadastradas nesse organismo[7] e que as inscrições isentavam as interessadas do pagamento de taxas, “exigindo-se apenas que a cadastrada vista-se de acordo com a tradição e que mantenha rigoroso asseio pessoal, como também dos seus objetos de trabalho.” O mesmo jornal, em reportagem do mês de setembro do mesmo ano, publica nova matéria sobre o tema cujo título, Prefeitura não exigirá das “baianas” o traje típico,[8] deixa claro que houve reação das “baianas” com relação às medidas impostas pelo órgão público. A declaração é da senhora Sônia Garrido, diretora da Divisão de Folclore, fato que demonstra que a entidade responsável pela medida não era mais a mesma e que a sua direção havia mudado. Informa-se também que há cerca de seiscentas baianas cadastradas e que metade delas vendem iguarias em cumprimento à obrigação do candomblé apresentado-se devidamente trajadas com a indumentária tradicional, em obediência aos preceitos da crença.

A partir de 1978 a Federação do Culto Afro-Brasileiro assume a responsabilidade do cadastramento e fiscalização das “baianas.” Porém, no início do mesmo ano, a reportagem tendo como título Baianas condenam discriminação religiosa na vendagem de comidas típicas,[9] denuncia a pretensão da entidade de afastar as vendedoras que não fossem filiadas ao candomblé e vinculadas a um terreiro. Houve protestos da maioria das vendedoras de comidas típicas que, indignadas, justificavam: “quem trabalha com tabuleiro é porque precisa de uma ocupação para garantir o seu sustento e da sua família, independente da seita ou religião a que pertença.” Mesmo as baianas vinculadas ao candomblé se mostraram descontentes com a entidade por considerá-la injusta, discriminando as “baianas” não adeptas do candomblé, num desrespeito à liberdade religiosa garantida por lei. Os objetivos da entidade não foram adiante e até novembro de 1998 ela foi a responsável pelo cadastramento, fiscalização e concessão de “pontos” para as “baianas de acarajé” de Salvador.

Em 1982 é criado o “Dia da Baiana,”[10] promoção da Bahiatursa, órgão oficial de turismo do estado, tendo sido escolhido o dia 25 de novembro para os festejos e homenagens. As comemorações do dia da baiana repetem-se a cada ano, com missa festiva na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, café da manhã, apresentações de sambas de roda, cânticos, sorteios e distribuição de prêmios entre as participantes. Segundo as reportagens dos jornais locais,[11] esta festa conta com a participação de baianas idosas e jovens, algumas com mais de cinqüenta aos de profissão, todas elas vestidas à rigor, exibindo suas mais belas indumentárias. Além disso são muitos os testemunhos destas mulheres que não poupam comentários sobre as dificuldades os prazeres nas duras jornadas de trabalho que começa, em geral, nas primeiras horas do dia, quando a maior parte da população ativa ainda dorme.

O título da matéria que anuncia a criação do “dia da baiana”, não necessita de explicações para que se possa entender as razões que motivaram a Bahiatursa a criar essa data festiva homenageado as trabalhadoras urbanas mais famosas da Bahia. No texto, a explicação é clara: “Com o objetivo de valorizar e estimular a figura da baiana típica, que através do seu trabalho difunde a culinária, a cultura e os costumes dos baianos, a Bahiatursa instituiu o dia 25 de novembro como o ‘Dia da Baiana do Acarajé’, quando será desenvolvida uma intensa programação nos principais centros emissores do fluxo turístico para o estado da Bahia.” A programação em questão visava atrair turistas de outras cidades brasileiras, principalmente Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília e Recife. “O vôo da Baiana” deu início à programação e sete baianas típicas embarcavam em companhias aéreas com destinação prevista para as capitais mencionadas acima, distribuindo entre os passageiros fitas do Senhor do Bonfim, programas anunciando os eventos festivos do verão baiano. Durante o vôo os passageiros escutavam canções cujos temas versavam sobre a própria baiana e na cidade de destino elas eram recebidas por uma personagem típica local. À noite era oferecido um coquetel à imprensa, às autoridades, aos diretores de agências de turismo e viagens, onde saboreava-se acarajés e batida de limão, havendo distribuição de brindes e folhetos promocionais. Esta programação foi repetida durante alguns anos, na mesma época, garantindo o sucesso das programações turísticas idealizadas pela Bahiatursa. No aeroporto de Salvador, nas saídas dos desembarques nacionais e internacionais, “baianas” distribuíam fitinhas do Bonfim aos passageiros, enquanto conjuntos de samba batucavam alegremente, despertado a curiosidade dos viajantes que desembarcavam na cidade, mesmo em plena madrugada.

Muitas coisas mudaram nestes últimos anos. Convidar “baianas” para servir iguarias nas festas refinadas e oficiais, tornou-se comun. Os jornais do Sul publicam reportagens sobre as “baianas.”[12] Até uma delicatessen[13] de Salvador, especializada em produtos finos, adotou o acarajé como chamariz para a clientela, vendendo em média cerca de seiscentos acarajés por tarde, que são confeccionados pelo setor de produção e não pela “baiana” que serve o petisco, como acontece habitualmente. Os acarajés são expostos em tabuleiros elétricos, permanecem quentes pois são conservados em banho-maria e cada compartimento apresenta uma iguaria diferente “sem aquela miscelânea que se pode observar nos tabuleiros tradicionais”. A “baiana”, é jovem, meiga e bonita tendo sido escolhida pela gerência do estabelecimento comercial para exercer a função. Uma experiência que deu certo, segundo os idealizadores.

Enquanto isso, algumas “baianas de acarajé”, como Cira[14] e Dinha,[15] estabelecidas respectivamente no Rio Vermelho e em Itapuã, chegam a comercializar mil acarajés por dia, durante a semana e mil e quinhentos acarajés diários nos fins de semana. Cira por exemplo tem uma rede de distribuição em vários pontos da cidade. As garçonetes fardadas servem os petiscos mediante fichas vendidas num caixa especial. Dinha, em contrapartida, tem um celular para atender os pedidos dos “clientes vips” e transporta o seu material de trabalho em carro de sua propriedade e é convidada com frequência para participar de eventos no sul do país.

Cursos de higiene alimentar (o primeiro realizado em 11 de abril 1992),[16] são oferecidos a cada ano. Surgiram associações, entre elas a ABA – Associação das Baianas de Acarajé, fundada em 1992,[17] contando com mil e duzentas associadas em 1998, entre as quatro mil vendedoras de comidas típicas trabalhando na região metropolitana do Salvador.

Já é possível comprar acarajés a quilo e sob encomenda e muitas baianas, que modernizaram, inclusive, o tabuleiro, aceitam vales de transportes como pagamento e oferecem um refrigerante gratuito na compra de um acarajé.[18] Em contrapartida, pode-se ler reportagens com título provocador – “’Baianas empresárias’ esquecem tradição.”[19]

Finalmente, a briga entre Dinha e Regina pela disputa da clientela no Largo de Santana no Rio Vermelho ocupou a primeira página da imprensa local[20] sendo notícia até no Jornal Nacional da Globo. Em razão dessa disputa a prefeitura, através da Secretaria de Serviços Públicos – SESP, chamou para si a responsabilidade pelas baianas. Em 25 de novembro de 1998, foi assinado pelo prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy, decreto regulamentando, pela primeira vez na história do município, o uso e a ocupação do solo.[21] As “baianas” terão um prazo de um ano para adotar as novas normas. Foi criada uma taxa destinada ao licenciamento para a exploração do comércio de iguarias, devendo a mesma ser renovada anualmente, haverá padronização do equipamento e obrigatoriedade do uso do traje típico.

Foto: Lucila Moreira

OBSERVAÇÕES FINAIS

Apesar do romantismo que envolve a “baiana,” – não só pelo carisma dessa personagem que conquistou a simpatia de baianos e brasileiros e que soube preservar ao longo dos tempos traços marcantes da cultura da Bahia, no mundo moderno e com a “globalizaçao” invadindo os mais recônditos rincões do planeta, a sua imagem poderia ser interpretada como irreal e ultrapassada. Essa baiana nostálgica lembra a Salvador do passado, escondendo mistérios nas ruelas estreitas.

A cidade e a baiana mudaram de fisionomia e de hábitos, modernizaram-se. As ladeiras do Pelourinho também já não escondem mistérios e segredos, estão iluminadas e policiadas. A “baiana” idealizada, a mulher-desejo percebida através dos cheiros, pelo paladar, pela sedução e da dança rica de meneios e requebros já não encanta tanto. Mas baianas como a Odilia e a Vitorina da época de Odorico Tavares existem ainda. A “baiana” personificada por Verger, capaz de enfrentar desafios e de transpor obstáculos pode ser encarnada pela maioria das “baianas”, sejam elas modestas, ou empresarias promissoras, sobretudo a mulher trabalhadora que enfrenta a rua carregando tabuleiro, fogareiro e a matéria prima para a confecção dos pratos, ferramentas do seu trabalho quotidiano, necessárias às solicitações mais elementares da família.

A “baiana de acarajé” das ruas da cidade do Salvador tornou-se personagem pública, real e imaginária, uma mulher trabalhadora e uma escultura simbólica feita de versos rimados e de lembranças saudosas, sobre um fundo permanente de precariedade social e econômica.

 

Artigo Publicado:

DAVID Maria Lenilda Carneiro S. A Baiana do acarajé : imagens do real e do ideal, Revista da Biblioteca Mário de Andrade, v. 57, São Paulo, jan./dez., 1999, p. 147-155.

 


[1] – TAVARES Odorico, Bahia, Imagens da terra e do povo, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1951, p. 131- 140.

[2] TAVARES Odorico, Bahia, imagens da terra e do povo, op. cit. p. 137.

[3] – Scheinowitiz, A.S., O macroplanejamento da aglomeração de Salvador, Salvador, Secretaria da Cultura e Turismo, EGBA, 1998.

[4] – PRANDI, Reginaldo. As religiões negras do Brasil, in Dossiê povo negro – 300 anos, Revista da USP , Coordenadoria de Comunicação social, Universidade de São Paulo, N° 1 (mar./mai. 1989, p. 74.

[5] – Jornal A Tarde, 16/07/1975 “Baiana do acarajé será cadastrada pela prefeitura. »

[6] – Jornal A Tarde, 8/07/1977, « O que é que a « baiana » tem ?, texto de Marcos Luedy..

[7] – Lista dos principais « pontos », com o número de « baianas » em suas zonas específicas : Avenida Sete de Setembro, 15 ; Amaralina : 14 ; Nazaré : 18 ; Baixa dos sapateiros : 17 ; Barroquinha : 27 ; Brotas : 16 ; Comércio :81 ; Estação Rodoviária :12 ; Itapuã : 84 ; Praça da Sé : 17 ; Terreiro de Jesus : 11 ; Vila Olímpica : 10

[8] – Jornal A Tarde, 05/09/77.

[9] – Jornal A Tarde, 31/07/1998.

[10] – Dia da « baiana do acarajé » para estimular o turismo », Jornal A Tarde, 21/11/1982.

[11] – “Baiana” tem paz de espírito e esperança, Jornal A Tarde, 26/11/83; Cidade homenageia baianas do acarajé com muito samba, Correio da Bahia, 24/11/85 ; Dia de festa para asbaianas”, A Tarde, 25/11/89; Percussão afro dá ritmo à missa no dia da baiana, Correio da Bahia, 26/11/1992; Profissão de féBaianas de acarajé fazem festa no Pelourinho, Correio da Bahia, 2/11/97; Hoje é dia da « baiana do acarajé » festejar, Jornal A Tarde, 25/11/97; Missa para homenagear as baianas revela sincretismo, A Tarde, 26/11/98;

[12] – Raimunda quer vender acarajé na praça – Acervo do Norte. Diário da Noite, São Paulo, 29/08/70; Baiana: em cada banca um mistério, Raul Lody, Jornal Última Hora, Rio de Janeiro, 10/05/80; Algumas das « baianas » mais conhecidas de Salvador, O Globo, 30/05/91.

[13] Delicatessen invadida por baiana de acarajé, Jornal A Tarde, 04/02/96.

[14] – Cira dá mais o que falar na briga entre as baianas., A Tarde, 17/11/98.

[15] – Imperatriz do acarajé – Grife do dendê, Correio da Bahia, 29/03/96.

[16] – « Baianas concluem curso sobre noções de higiene » Jornal A Tarde, 11/04/92. Das 2.067 baianas cadastradas pela Federação do Culto Afro Brasileiro, 538 baianas inscreveram-se no curso oferecido pela Secretaria de Saúde da Prefeitura do Salvador.

[17] – Entidade quer organizar « baianas” Jornal A Tarde, 16/10/98.

[18] – Baiana de acarajé inova para vencer concorrência, Jornal A Tarde, 13/11/96.

[19] – Reportagem publicada no Jornal A Tarde em 27/09/97, denunciando o marketing e as novas técnicas de comércio como responsáveis pela descaracterização da « baiana do tabuleiro » tradicional.

[20] – « Guerra do acarajé » na disputa de ponto no Largo de Santana, A Tarde, 16/10/98 ; Baiana vai à justiça para ficar no Largo de Santana, A Tarde, 21/10/98 ; Regina mantém –tabuleiro próximo ao de Dinha no Largo de Santana, A Tarde, 22/10/98 ; Novela das baianas pode render novos capítulos, A Tarde, 24/10/98; Guerra das baianas esquenta, Correio da Bahia, 24/10/98.

[21] – Decreto acaba com a guerra do acarajé em Salvador, A Tarde, 25/11/98.