Entrevista com o escritor Antonio Brasileiro

Cláudia Campos, estudante da UEFS, analisando os poemas de Brasileiro, resolveu fazer uma brincadeira; imaginou uma entrevista e, de maneira criativa, respondeu às questões com versos do poeta.

Antônio Brasileiro

1.     Como foi o dia do seu nascimento? 

 O dia em que nasci não teve mistério algum.

O condutor do bonde almoçou à mesma hora,

a novela do rádio continuou em suspense,

a guerra era a mesma merda:guerra é guerra.

Foi um dia como hoje, como ontem, como amanhã

e como daqui a cem anos, com absoluta certeza.

 

2.     Você se considera alguém muito inteligente?

Há coisas que não decifro.

E nem por isso sofro.

Estar no mundo é que é o difícil.

O sol é uma bola imensa.

Eu, pó de mésons.

Em torno a mim nenhuma só tormenta.

 

3.     O que você acha da injustiça social?

Nós somos da mesma cepa,

mas vistos de binóculos somos os mesmos.

Eis uma grande injustiça.

 

4.     Defina a vida e o mundo.

A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem.
                               Passando.

 

A vida – diz Manoel, o são – é

tempestável. E que é tempestável,

Manoel? Tempestável? Ah, tempestável !

É a vida, filho. Quem lá sabe !

 

5.     Como você se vê daqui a alguns anos?

No fim dos tempos,

vou estar numa casinha de palha,

uns livros, um lápis,

papel almaço, a alma pura

e uns rabiscos pra ninguém ler,

só  me confessar.

Ao deus dentro de mim, primeiramente.

E a quem não interessar possa.

 

6.     O que dizer de seus poemas?

Meus versos são de pura essência

Dos poemas essenciais

Nada dizem de verídico

Não querem nada explicar.

Se por vezes falam alto

É por puro gozo, júbilo.

 

7.     Se tivesse que definir sua função no mundo, qual seria?

Fico só comigo, como um lobo

Como um lobo fica só consigo:

Esse mundo é uma jaula;

Você , um inimigo.

 

 8.     Todos nós temos esperança em algo, num governo justo, nas melhores condições de vida e você tem esperança em quê?

A esperança, ah a esperança

Luz no porão iluminando ratos.

 

 9.     Quais são seus planos pro futuro?

 Um  dia ainda hei de escrever poemas fundamentais-

Como a pedra fundamental,

Como a lúgubre senhora magra

E as bússolas de pau com agulha de ferro

Boiando no óleo eterno.

 

10.            Para encerrar, cite-me uma frase sua.

  A verdade é uma só: são muitas.

E estamos todos certos. E sem rumo.

 

 Entrevistado: Antonio Brasileiro

Entrevistadora: Cláudia Campos