Jorge Amado em letras e cores

 

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Amanhã, 14 de agosto, será lançado o novo livro “Jorge Amado em letras e cores”, de Rita Olivieri-Godet e Juraci Dórea, editado pela UEFS Editora.

O lançamento faz parte da programação do Curso Jorge Amado 2015 – V Colóquio de Literatura Brasileira, promovido pela Academia de Letras da Bahia e pela Fundação Casa de Jorge Amado.

Local: Fundação Casa Jorge Amado – Pelourinho – Horário: 17 horas

 

Poesia em prosa

 

Carta de Caymmi para Jorge Amado

“Jorge, meu irmão, são onze e trinta da manhã e terminei de compor uma linda canção para Yemanjá, pois o reflexo do sol desenha seu manto em nosso mar, aqui na Pedra da Sereia. Quantas canções compus para Janaína, nem eu mesmo sei, é minha mãe, dela nasci. Talvez Stela saiba, ela sabe tudo, que mulher, duas iguais não existem, que foi que eu fiz de bom para merecê-la? Ela te manda um beijo, outro para Zélia e eu morro de saudade de vocês. Quando vierem, me tragam um pano africano para eu fazer uma túnica e ficar irresistível.

Ontem saí com Carybé, fomos buscar Camafeu na Rampa do Mercado, andamos por aí trocando pernas, sentindo os cheiros, tantos, um perfume de vida ao sol, vendo as cores, só de azuis contamos mais de quinze e havia um ocre na parede de uma casa, nem te digo. Então ao voltar, pintei um quadro, tão bonito, irmão, de causar inveja a Graciano. De inveja, Carybé quase morreu e Jenner, imagine!, se fartou de elogiar, te juro. Um quadro simples: uma baiana, o tabuleiro com abarás e acarajés e gente em volta. Se eu tivesse tempo, ia ser pintor, ganhava uma fortuna. O que me falta é tempo para pintar, compor vou compondo devagar e sempre, tu sabes como é, música com pressa é aquela droga que tem às pampas sobrando por aí.

O tempo que tenho mal chega para viver: visitar Dona Menininha, saudar Xangô, conversar com Mirabeau, me aconselhar com Celestino sobre como investir o dinheiro que não tenho e nunca terei, graças a Deus, ouvir Carybé mentir, andar nas ruas, olhar o mar, não fazer nada e tantas outras obrigações que me ocupam o dia inteiro. Cadê tempo pra pintar?

Quero te dizer uma coisa que já te disse uma vez, há mais de vinte anos quando te deu de viver na Europa e nunca mais voltavas: a Bahia está viva, ainda lá, cada dia mais bonita, o firmamento azul, esse mar tão verde e o povaréu. Por falar nisso, Stela de Oxóssi é a nova iyalorixá do Axé e, na festa da consagração, ikedes e iaôs, todos na roça perguntavam onde anda Obá Arolu que não veio ver sua irmã subir ao trono de rainha? Pois ontem, às quatro da tarde, um pouco mais ou menos, saí com Carybé e Camafeu a te procurar e não te encontrando, indagamos: que faz ele que não está aqui se aqui é seu lugar? A lua de Londres, já dizia um poeta lusitano que li numa antologia de meu tempo de menino, é merencória. A daqui é aquela lua. Por que foi ele para a Inglaterra? Não é inglês, nem nada, que faz em Londres? Um bom filho-da-puta é o que ele é, nosso irmãozinho.

Sabes que vendi a casa da Pedra da Sereia? Pois vendi. Fizeram um edifício medonho bem em cima dela e anunciaram nos jornais: venha ser vizinho de Dorival Caymmi. Então fiquei retado e vendi a casa, comprei um apartamento na Pituba, vou ser vizinho de James e de João Ubaldo, daquelas duas ‘línguas viperinas, veja que irresponsabilidade a minha.

Mas hoje, antes de me mudar, fiz essa canção para Yemanjá que fala em peixe e em vento, em saveiro e no mestre do saveiro, no mar da Bahia. Nunca soube falar de outras coisas. Dessas e de mulher. Dora, Marina, Adalgisa, Anália, Rosa morena, como vais morena Rosa, quantas outras e todas, como sabes, são a minha Stela com quem um dia me casei te tendo de padrinho. A bênção, meu padrinho, Oxóssi te proteja nessas inglaterras, um beijo para Zélia, não esqueçam de trazer meu pano africano, volte logo, tua casa é aqui e eu sou teu irmão Caymmi”.

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Exposição – “100 x 100 Caribé ilustra Jorge Amado”

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Com entrada franca projeto visa a difundir a arte conjunta dos artistas, conhecidos por obras inesquecíveis e singular atuação nas áreas de literatura e artes plásticas

Feira de Santana será a segunda cidade a receber entre os dias 1º de agosto e 1º de setembro, no Centro Universitário de Cultura e Arte da Universidade Estadual de Feira de Santana, a exposição “100×100 Carybé Ilustra Jorge Amado”, que tem como objetivo promover uma reflexão sobre a importância da relação entre Carybé e Jorge Amado, e tornar este legado mais acessível à população.

A exposição tem a curadoria de Solange Bernabó, filha de Carybé, que no dia 1ºde agosto, às 19h, na Galeria Carlos Barbosa (CUCA), fará uma palestra sobre “Carybé e Jorge, uma amizade centenária”.

Com o projeto expográfico assinado pelo arquiteto Daniel Colina, a exposição mostra imagens das capas e ilustrações de livros como O Sumiço da Santa, Jubiabá, A Morte e A Morte de Quincas Berro D’água, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, além de trechos dos textos, cartazes, croquis de cenários e figurinos para os balés Gabriela e Quincas, e também fotos que revelam diferentes momentos da amizade entre Jorge e Carybé.

“100×100 Carybé Ilustra Jorge Amado” é uma realização do Instituto Carybé, em parceria com a Hasta la Luna Iniciativas Culturais, apoio da Fundação Casa de Jorge Amado e patrocínio do Grupo LM, através da Lei Rouanet.

Segundo o representante do Grupo LM, o gerente da Concessionária Bravo Caminhões e Ônibus de Feira de Santana, João Márcio Pinheiro, é uma honra para o Grupo patrocinar essa grande homenagem, mostrando que acredita e incentiva a cultura.

 “O baiano Jorge Amado e o argentino Carybé, que amava muito a Bahia, marcaram sua época e deixaram um legado na história e na cultura do nosso país, valorizando nossa identidade. A expectativa é grande por Feira de Santana ter sido escolhida para sediar uma exposição dessa grandeza”, explica Pinheiro.

Caminhos da Itinerância

Ilhéus foi a primeira cidade a receber a exposição, seguida de Feira de Santana e por último Salvador, onde ocorrerá entre 6 de setembro e 6 de outubro, no Solar Ferrão.

 A cada cidade visitada, a obra de dois dos principais artistas nacionais reconhecidos internacionalmente poderá tocar diversos públicos, desde fãs a curiosos.

Sobre a Exposição  “100×100 Carybé Ilustra Jorge Amado”

O imaginário popular sobre a Bahia foi concebido a partir das palavras de Jorge Amado e das imagens de Carybé, que devido às suas singularidades, criaram obras de extrema originalidade e beleza, revelando características da cultura baiana capazes de apresentar o estado ao mundo.

Com sua narrativa particular, Jorge Amado revelou curiosidades sobre a Bahia que vão desde sua mescla de religiosidade e sensualidade, com cheiros, cores, sons e sabores eternizados em romances traduzidos e publicados em cerca de 60 países. Já Carybé materializou-a em imagens. Sua vasta obra, composta principalmente por pinturas, gravuras, ilustrações, murais e esculturas, desvendam o povo baiano de maneira única. Além de únicos em suas áreas, Jorge e Carybé são personagens da vida real que se cruzaram e tornaram-se irmãos, influenciando um ao outro, bebendo muitas vezes da mesma fonte e produzindo um magnífico legado.