O nascimento da indústria fonográfica no Brasil

 

Passeando pela internet, encontrei, graças à Pesquisa Arte Edição – Pedro Bersi, SC Brasil (WindsFilmesBRASIL 2008) o clip da primeira música registrada em disco no Brasil, o lundu Isto é bom, de Xisto Bahia, cantado por Manuel Pedro dos Santos, o Baiano. A gravação de 1902, vale como documento e pelo resgate dos primórdios da música popular brasileira. 

E agora, um pouquinho dessa história: 

“Na edição de 20 de janeiro de 1892 o « Jornal de Notícias » de Salvador, publicou o seguinte anúncio:

Hoje estreará no Chalet Parisien o Phonographo, das 6 da tarde às 10 da noite. Chamamos a atenção do público para apreciar o bom sorvete com a música do phonographo.

Este anúncio foi mandado publicar por Frederico Figner, que seria mais tarde o responsável pela implantação da indústria fonográfica no Brasil e proprietário das Casas Edison, no Rio de Janeiro. No dia 25 de janeiro, o mesmo jornal publicaria o  texto seguinte :

Assombroso – É na verdade, estupendamente assombroso o invento de Edison, esse prodigioso aparelho chamado phonographo. Por mais que se diga ou se escreva, nunca se conseguirá dar uma idéia exata do que é realmente aquele colossal invento, uma das últimas maravilhas deste século.

O Jornal de Notícias informava ainda que Frederico Figner dispunha-se a visitar as famílias que desejassem apreciar « tão colossal maravilha », assegurando que o phonographo só tinha um defeito : « não ser nosso » e aconselhava « às amáveis e gentis leitoras » que pedissem, gritassem, chorassem, zangassem-se com seus pais e maridos para convencê-los à levá-la a escutar « a portentosa maravilha do século : o phonographo ».

Frederico Figner, que nesta época morava nos Estados Unidos, de posse de um fonógrafo e de alguns cilindros de cera com gravação impressa, resolveu viajar pelas Américas, divulgando o invento de Thomas Edison. No Brasil, sua peregrinação começou por Belém do Pará, tendo visitado inúmeras capitais, passando por Salvador, como vimos acima, chegando finalmente ao Rio de Janeiro em abril de 1892, onde estabeleceu-se.

Incentivado pelo grande sucesso do fonógrafo na sua peregrinação pelas capitais brasileiras, Figner fundou a « Casa Edison do Rio de Janeiro », onde comercializava o aparelho e os cilindros de cera. Ao tomar conhecimento da invenção do Gramofone e do disco de cera (1894) por Émile Berliner, ele inaugurou, em 1901, uma sala de gravações de discos que perpetuariam canções brasileiras para as gerações futuras. Ele era agente da fábrica alemã International Zonophone Company, tendo recebido a patente (1901) dos discos de duas faces, inventados pelo suisso Adhemar Napoléon Petit ; no ano seguinte foi gravado o lundú Isto é bom de Xisto Bahia (nesta época já falecido) cantado por Baiano – Manuel Pedro dos Santos -, cujo número é o 10.101, da marca Zon-o-phone. Nessa música encontramos versos como estes : « No inverno rigoroso/ Bem dizia a minha avó/ Quem dorme junto tem frio/ Que fará quem dorme só?/ Isto é bom/ Isto é bom que dói… ».
                                                                                 (Leni David)

Observação: O texto acima é um fragmento do artigo São Salvador da Bahia: imagens e canção popular, da minha autoria (Maria Lenilda Carneiro David), publicado no livro Identidades e representações na cultura brasileira, organizado por Rita Olivieri-Godet e Lícia Souza (Editora Idéia/UFPB – João Pessoa, em 2001, p. 175-198).

Agora vejam o mesmo lundu com interpretação moderna: