Sobre Leni David

Sou amante das artes. Gosto de ler, escrever, cantar, ouvir música, comer bem e de viajar. Tenho muitos amigos, todos especiais. Detesto hipocrisia, preconceito, mentira e injustiça. Sou licenciada e pós-graduada em Letras. Como professora, amo o meu trabalho e começaria tudo outra vez, se preciso fosse... Ah, gosto de cozinhar!

O grande dia – Reinauguração do Museu Regional

 

1 A CUCA PRÉDIO FACHADA

É hoje!

 A Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), através do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), reinaugura, o Museu Regional de Arte de Feira de Santana (MRA). O coquetel comemorativo, que está marcado para começar às 20 horas, contará com uma vasta programação cultural. Além de um recital de música clássica, a ser executado pelo Grupo de Câmara do Cuca, serão realizadas diversas performances e intervenções artísticas.

2 A cesar_romero

Cesar Romero

Ontem, sexta-feira (8), a diretoria do Cuca convidou a imprensa a conhecer as novas instalações do prédio, que passou por um minucioso processo de restauração, sob a supervisão do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), órgão responsável pela salvaguarda de bens culturais tangíveis e intangíveis e pela política pública estadual voltada ao patrimônio cultural. Na ocasião foi servido um café da manhã.

5 A raimundo_de_oliveira

Raimundo de Oliveira

Primeira instituição museológica do município, o Museu Regional de Arte foi fundado em 26 de março de 1967, pelo embaixador Assis Chateaubriand, magnata das comunicações no Brasil, que idealizou a Campanha Nacional dos Museus Regionais, com o objetivo de dotar as diferentes regiões do Brasil com expressivos acervos de arte. Por iniciativa de Chateaubriand, o Museu Regional de Arte de Feira de Santana tem hoje uma das mais importantes coleções de arte do mundo.

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Carlo Barbosa

Inicialmente instalado no prédio onde hoje funciona o Museu de Arte Contemporânea (MAC), o Museu Regional de Arte foi incorporado ao Cuca em 1995, passando a funcionar no imponente prédio de estilo eclético que, no passado, abrigou a Escola Normal de Feira de Santana. Localizada na Rua Conselheiro Franco, antiga Rua Direita, a atual sede do Museu Regional permaneceu fechada por dois anos, período em que não apenas a sua estrutura física foi restaurada, mas também o seu imponente acervo, que passou por um meticuloso processo de limpeza e conservação, realizado pelo Studio Argolo Antiguidades e Restaurações, de Salvador, sob o comando do renomado restaurador José Dirson Argolo.

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Gil Mário

Acervo histórico

Com a reabertura do Museu Regional, o público terá a oportunidade de voltar a contemplar o valioso conjunto de obras assinadas por Di Cavalcanti e Vicente do Rego Monteiro, precursores do Movimento Modernista Brasileiro. A Coleção Inglesa, composta por 30 telas confeccionadas a óleo nas décadas de 50 e 60, pertencentes a consagrados artistas modernos ingleses, como Antony Donaldson, Alan Davie, Bary Burman, Bryan Organ, David Leverret, Derek Hirst, Derek Snow, Joe Tilson, John Kiki e John Piper, será um dos destaques da exposição de reinauguração, assim como a Coleção de Arte Naïf e a Coleção Nipo-Brasileira, que têm grande importância no cenário das artes plásticas mundial.

Juraci Dórea

Juraci Dórea

De acordo com Selma Oliveira, diretora do Cuca, também comporão a mostra obras pertencentes a importantes artistas estrangeiros naturalizados brasileiros, como Manabu Mabe, Carybé, Hansen Bahia e Reinaldo Eckenberger, e telas de artistas feirenses e outros artistas baianos que alcançaram projeção internacional, a exemplo de Raimundo de Oliveira, Carlo Barbosa, Juraci Dórea, César Romero, Gil Mário, Mario Cravo, Calasans Neto, Carlos Bastos, Jenner Augusto, Juarez Paraíso e Sante Scaldaferri. “A ideia é montar a exposição através de um recorte do acervo histórico. Vamos comemorar 48 anos de atuação institucional e contribuição para o imaginário cultural feirense”, salientou.

Com informações de Ísis Moraes – Ascom/Uefs

Mário Cravo

Mário Cravo

Calasans Neto

Calasans Neto

Hansen Bahia

Hansen Bahia

Vicente do Rego

Vicente do Rego

Carybé

Carybé

Di Cavalcante

Di Cavalcante

A. Reynoldes

A. Reynoldes

 

UEFS Editora lança novos livros na próxima quinta-feira

 

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A UEFS Editora lança, na próxima quinta-feira (14), a partir das 16h, oito novos títulos de diversas áreas do conhecimento. A solenidade de lançamento, aberta ao público, será realizada no hall do prédio da Reitoria da Universidade Estadual de Feira de Santana.

As obras focalizam a etnografia do candomblé, a história do protestantismo brasileiro, as artes sacras católicas, a antropoentomofagia, a ecologia humana, a herpetologia, a historiografia da cultura, da sociedade e da política e a competividade territorial no polo de desenvolvimento de Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia.

Julio Braga, em “Candomblé: a cidade das mulheres e dos homens”, mostra porque, no universo das religiões afrobaianas, a presença masculina, como a do babalaô Martiniano Eliseu do Bomfim, é tão relevante quanto a feminina, a exemplo das ialorixás Mãe Aninha e Mãe Menininha do Gantois. O ponto de partida da obra é o estudo “A cidade das mulheres”, da etnóloga norte-americana Ruth Landes, publicado em 1947.

“Fiel é a Palavra: leituras históricas dos evangélicos protestantes no Brasil”, organizado por Elizete da Silva, Lyndon de Araújo Santos e Vasni Almeida, está em sua 2ª edição e recupera a memória de anglicanos, luteranos, presbiterianos, congregacionais, batistas e metodistas no país, do século XIX até a atualidade.

Em “Imagens de roca: uma coleção singular da Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira”, Selma Soares de Oliveira estuda a importância das imagens sacras que se destinam a procissões e são vestidas com trajes de tecido. Em sua pesquisa nos acervos católicos da Bahia, a autora encontrou nessa igreja histórica de Cachoeira, no Recôncavo, a coleção de peças que mais lhe chamou a atenção.

“Antropoentomofagia: insetos na alimentação humana”, 2ª edição, é organizado por Eraldo Medeiros Costa Neto e reúne textos de diversos pesquisadores. Os trabalhos ressaltam o fato de que os insetos são o grupo mais rico e diverso do reino animal, porém ainda muito pouco estudado do ponto de vista da etnoecologia e da cozinha entomofágica.

“Os anfíbios e répteis da Reserva Madeira, Estado de Alagoas, Nordeste do Brasil”, organizado por Geraldo Jorge Barbosa de Moura, Eliana Maria de Souza Nogueira e Eraldo Medeiros Costa Neto, reúne trabalhos de pesquisadores de várias universidades nordestinas. O livro se destina a herpetólogos e ao público interessado em conhecer mais sobre a fauna de anfíbios e répteis dos remanescentes de Mata Atlântica brasileira.

“Ecologia Humana: uma visão global”, organizado por Ronaldo Gomes Alvim, Ajibola Isau Badiru e Juracy Marques, é uma coletânea de artigos sobre o surgimento e a abrangência dessa nova ciência, que, como área de formação e pesquisa em sua perspectiva pluridisciplinar, estuda as complexas relações entre o ser humano e seu entorno.

“Cultura, sociedade e política: ideias, métodos e fontes na investigação histórica”, organizado por Elizete da Silva e Erivaldo Fagundes Neves, é uma antologia de ensaios que abordam a produção contemporânea em ciências humanas do ponto de vista historiográfico. Os trabalhos tematizam história e política, história e literatura, história e religião e metodologias da pesquisa em história agrária e história regional.

“Competividade territorial e federalismo na Região Integrada de Desenvolvimento Econômico (RIDE) Petrolina-Juazeiro”, de Reinaldo Santos Andrade, é um estudo analítico e interpretativo do espaço geográfico, no sentido de território usado, e sua relação com o capitalismo global contemporâneo, o ordenamento territorial-regional, os diferentes federalismos, a dinâmica do polo de desenvolvimento em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) e o problema das desigualdades socioeconômicas e territoriais.

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Para começar a semana

 

 

Tempo

 

Adélia Prado

 A mim que desde a infância venho vindo

como se o meu destino

fosse o exato destino de uma estrela

apelam incríveis coisas:

pintar as unhas, descobrir a nuca,

piscar os olhos, beber.

Tomo o nome de Deus num vão.

Descobri que a seu tempo

vão me chorar e esquecer.

Vinte anos mais vinte é o que tenho,

mulher ocidental que se fosse homem

amaria chamar-se Eliud Jonathan.

Neste exato momento do dia vinte de julho

de mil novecentos e setenta e seis,

o céu é bruma, está frio, estou feia,

acabo de receber um beijo pelo correio.

Quarenta anos: não quero faca nem queijo.

Quero a fome.

Juraci Dórea conta em livro a história de Feira de Santana

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Eron Rezende

Embora esteja no centro de Feira de Santana, apinhado de motos, vendedores de rua e negociantes de megafone, a casa de Juraci Dórea, feita à semelhança da arquitetura árida (barro e tijolos aparentes, plantas urticantes, terreno pedregoso), tem o som de um mosteiro no sertão. “Me apeguei fácil, por isso não consigo sair”, diz ele, erguendo os braços, como se apontasse para a invisível camada que abraça sua casa e a distingue da urgência mundana. “Dizem que um artista tem que encarar o silêncio como fonte de criatividade. Aprendi isso desde cedo”.

Sua reverência ao silêncio, no entanto, parece ser menos resultado da disciplina de um artista, e mais de um traço perene de personalidade. Juraci Dórea é um sertanejo. Seu corpo viceja o sertão. Nascido, criado e “enraizado”, com ele diz, em Feira de Santana, cidade que oscila entre a geografia árida e a litorânea, ele aparenta sempre habitar o lado árido da história. “A maior parte da minha infância passei vendo os vaqueiros, as boiadas no meio da rua. A minha vivência foi em cima dessa cultura”.

Daí vem o ímpeto que o fez colocar em telas, murais e esculturas o cotidiano das terras ressequidas, a ponto de utilizar o próprio semiárido baiano como superfície de exposição, espelhando obras em comunidades do interior – algo que está na base do Projeto Terra, iniciado há 30 anos, que levou o nome de Dórea para importantes mostras de arte, como as bienais de São Paulo, Havana e Veneza. Em seu ateliê, situado ao fundo da casa, ele, com 70 anos, trabalha agora num novo projeto, uma mescla de biografia, memórias e colagem: pretende, num livro, contar a história de Feira de Santana.

“Eu queria fazer um trabalho sisudo e histórico, mas, aos poucos, percebi que o maior legado que posso deixar é uma história subjetiva”, diz, indicando uma mesa atulhada de livros, fotos e revistas que versam sobre a cidade, acumulados em quase 50 anos de carreira. Com a mente livre de um ensaísta, Dórea pretende, a partir das mudanças arquitetônicas (como a extinção de prédios históricos de arquitetura eclética), fazer uma narrativa pessoal sobre sua cidade natal.

O livro, que será concluído no final do primeiro semestre, terá edição da Universidade Estadual de Feira de Santana, onde Dórea atuou como professor do Departamento de Letras e Artes. Hoje aposentado, ele debruça-se exclusivamente sobre a feitura da obra. “É um projeto que martela minha cabeça há tanto tempo que eu achava que nunca fosse realizar. Quando a universidade colocou prazo, pensei: ‘É agora'”.

Terra

A formação em arquitetura pela Ufba o ajudará na análise das mudanças urbanas, mas é o talento de arquivista que parece sustentar a empreitada. Dórea possui catalogado praticamente tudo referente a sua própria trajetória. Numa estante próxima ao computador, que usa para digitalizar registros ainda em papel, ele guarda negativos de fotos que exibem suas primeiras exposições, a passagem das telas em carvão para as de tinta, a utilização das primeiras peças de couro em esculturas e, claro, todo o percurso do Projeto Terra.
“Esse foi um trabalho que não achava muito espaço nas mostras de arte oficiais. Aí me ocorreu  não expor na cidade, nos museus, nos circuitos oficiais, mas devolver esse trabalho para o sertão”, diz sobre o Projeto Terra. “Em vez de fazer a exposição nos museus, eu fiz a exposição no próprio ambiente de inspiração”.

Os registros mais curiosos da saga do Projeto Terra são os da interação dos moradores com as obras, sobretudo com as esculturas abstratas feitas com madeira e couro curtido. Há sempre uma reverência cautelosa, como a que exibe Edwirges, senhora que, durante o início do projeto, em 1984, auxiliou Dórea no contato com os moradores de diversos povoados do sertão, como Monte Santo, Canudos e Raso da Catarina – a estação ecológica próxima a Santa Brígida, local das aventuras de Lampião e seu bando.

“Sertão é uma palavra abrangente, porque em cada estado do país tem um. Mas o meu  é o do Nordeste. Começa em Feira e se espalha pelo oeste”, diz. “Mais do que isso,  para mim, é o lugar das coisas essenciais, onde nada é supérfluo, nada pode sobrar”.

No ano passado, quando a trajetória de Dórea foi reverenciada com uma mostra na 3ª Bienal da Bahia e com o documentário O Imaginário de Juraci Dórea no Sertão: Veredas, dirigido por Tuna Espinheira, passou pela sua cabeça que a vida, dali em diante, seria feita com o “ócio de quem se  aproxima do fim”. Ideia que, ele diz, “chegou e foi em dois segundos”. Após concluir o livro, já planeja retomar a série de quadros Cenas Brasileiras (que emulam a literatura de cordel) e já não acha descabido aventurar-se numa nova expedição para o Projeto Terra. Um fruto, ele lembra, da produtividade germinada no silêncio.

Fonte: Jornal A Tarde

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