Nativismo
Imaginou-se nos cafés de paris
lançando uma nova poética
e
um baião enciumado ecoou longe.
Iderval Miranda *
(Festa e funeral. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1982. Pág. 31)
* Um dos meus poetas preferidos
Imaginou-se nos cafés de paris
lançando uma nova poética
e
um baião enciumado ecoou longe.
Iderval Miranda *
(Festa e funeral. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1982. Pág. 31)
* Um dos meus poetas preferidos
Desejos
Desejo a você…
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel…
E muito carinho meu.
(Carlos Drummond de Andrade)
Hoje é o Dia do Amigo. Celebrado no dia 20 de julho, o Dia do Amigo foi instituído na Argentina, através do Decreto nº 235/79; aos poucos foi sendo adotado em outras partes do mundo. A idéia foi do argentino Enrique Ernesto Febbraro.
Dia de Amigo é todo dia, para quem quer bem, respeita e admira. Como não sou capaz de escrever versos tão bonitos, faço minhas as palavras de Drummond e publico o poema Desejos, que recebi hoje pela manhã enviado pela minha amiga Letícia. Obrigada Amiga!
E posto também a magnifíca Canção da América, de Fernando Brant e Milton Nascimento.
POÇO
Perder-se.
Ai, perder-se – sim
no próprio mistério do trajeto
das sacudidelas
agônicas.
SEGREDOS
Tudo guardado
no cofre das reminiscências:
oblíquas pontes
flores no cio
latitudes calosas.
Tudo o que já não é o mesmo
e visto pela fresta
da noturna alma.
POEMETOS
VI
P/ Elieser César
Em cada alma
desliza
Indomável barco.
A corda
não amarra
o sussurro das âncoras.
VIII
Os panos das velas
(anônimos veleiros)
seguem no regaço
das cantigas dos ventos.
HAICAIS
9
Oiro parido.
Dez mil nuvens de viés.
Sol no poente.
12
Lagarta na folha
Colorida transmutação
efêmeras asas
13
Na noite espessa
vagalumes encandeiam
As veias da floresta
O ESPELHO
de repente
soube
ler nuvens
ouvir pedras
cantar silêncios
sentir doçuras em farpas
de repente
não soube mais
o caminho da pia
o sentido das placas
ligar a luz
esperar
rir
de repente
nada mais acontecia
tudo era um só espelho
e nele você me ardia
Carlos Barbosa
À moda de Manuel Bandeira
dez horas da manhã
um homem arrasta-se na calçada
em frente ao prédio da reitoria
de cócoras
defeca
limpa-se com a mão direita
que esfrega em seguida numa poça d’água
no instante seguinte
o sinal abre para os carros
que fecham a cortina
do breve humano espetáculo
Carlos Barbosa
A ENCHENTE
O rio venceu o cais, invadiu a praça, subiu os degraus da igreja.
Minha mãe, a seco, foi lá ver:
– Que tragédia, meu Deus! Mas como é lindo!
Carlos Barbosa
Carlos Barbosa nasceu no interior da Bahia. Graduou-se em Jornalismo e em Direito. Escreveu letras de música, participou de festivais e teve seu primeiro conto premiado no Concurso de Contos do Jornal da Bahia, em 1977. É parceiro de Dominguinhos em duas canções. Publicou “Água de Cacimba”, livro de poemas, em 1998; ´é autor do romance “A Dama do Velho Chico” publicado pela Bom Texto Editora, do Rio de Janeiro.
Fonte : Miniconto