Entre silêncios e palavras

 

“O homem que se entrega inteiro ao silêncio

nunca se doa inteiro

em palavras.

Eterno peregrino em seu próprio silêncio

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“L’homme qui s’adonne tout entier au
silence ne se donne jamais tout entier
en paroles
Éternel voyageur en son propre silence”

Michel Camus. Proverbes du silence et de l’émerveillement. (Collection Terre de Poésie, Editions Lettres Vives) P.41.

 

Ocaso em Madrid

                    Leni David

Puedo escribir los versos mas tristes esta noche

 Versos na tarde madrilense.

Um poeta solitário

de negro

no Parque do Retiro.

 

Ar pesado, mormaço,

um lemon granizado sobre a mesa

mãos que buscam a mão do companheiro…

casais de namorados,

velhos sem pressa

que passam

acordes de um realejo…

 

A tarde finda

prenhe de poesia:

vinte poemas de amor e uma canção desesperada;

o pensamento

solto em fantasia,

os olhos fixos

nas águas calmas do lago

onde se espelha o Palácio de Cristal.

 

     Publicado Revista Hera, n° 20.

     Feira de Santana: Edições Cordel, 2005, p. 36

Foto capturada na internet

Um poema de Verlaine traduzido em português

 
Gosto muito de Chanson d’automne, escrito por Verlaine, também conhecido como “poeta maldito” e “príncipe dos poetas”; outro dia encontrei uma tradução do poema, escrita por Alphonsus Guimaraens, um dos mais admirados poetas simbolistas do Brasil e que viveu até os anos 20 do século passado.
 
 
CHANSON D’AUTOMNE
  
Les sanglots longs
Des violons
De l’automne
Blessent mon coeur
D’une langueur
Monotone.
 Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l’heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.
 Et je m’en vais
Au vent mauvais
Qui m’emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.
Paul Verlaine
 
 
CANÇÃO DO OUTONO
 
(Tradução: Alphonsus de Guimaraens)
Os soluços graves
Dos violinos suaves
Do outono
Ferem a minh’alma
Num langor de calma
E sono.
Sufocado, em ânsia,
Ai! quando à distância
Soa a hora,
Meu peito magoado
Relembra o passado
E chora.
Daqui, dali, pelo
Vento em atropelo
Seguido,
Vou de porta em porta,
Como a folha morta
Batido

Outono em Paris

Um poeta: Luís Pimentel

EU E ELA

Ela cuspiu nos meus sonhos

não reagi

              acordei.

Xingou mamãe de jamanta

fui até bom

              concordei.

Disse que eu era uma besta

compreendi

              mas chorei.

Gritou que tinha outro homem

fui imbecil

              duvidei

Provou que eu não existia

não discuti

              me matei

 

CANTO MENOR

           Para Antônio Brasileiro

 Eu que recitava

ser maior que o mundo,

hoje me concentro:

sou menor que a água.

Só que menos clara,

só que menos calma,

só que menos

e só.

       (Luiz Pimentel)

 

Luís Pimentel nasceu no sertão baiano, em 1953 entre Itiúba e Gavião. Mas, dizem as más línguas que ele é natural de Feira de Santana; talvez o seja, por afinidade e pelos amigos que tem ali. Jornalista radicado no Rio de Janeiro trabalhou em diversas redações de jornais e revistas locais, dentre eles, os jornais Última e Hora e Jornal do Brasil. Dirigiu e editou a revista Música Brasileira, publicação dedicada à memória e aos lançamentos da MPB. Fez parte de dois periódicos lançados por Ziraldo – Bundas e O Pasquim21. É autor de mais de 20 livros de poesia e  prosa. Atualmente é colunista de O Dia. Como escritor recebeu importantes prêmios por sua vasta e variada obra.

Obras do autor:

Aquele beijo que eu te dei (contos e crônicas, Ed. Antares, 1985); As miudezas da velha (Prêmio Jorge de Lima de Poesia, Ed. Clima, 1990. 2º Edição: Myrrha, 2003); Um cometa cravado em tua coxa – contos (Editora Record, 2003); Entre sem bater – Humor na imprensa, do Barão de Itararé ao Pasquim21 (Ediouro, 2004); O calcanhar da memória – Poesia (Bertrand Brasil, 2004); Declarações de humor (textos humorísticos, Fivestar, 2006. 1ª edição: Ed. Gavião, 1994); Com esses eu vou – de A a Z, crônicas e perfis da MPB (Editora ZIT, 2006); Contos escolhidos (Fundação Cultural da Bahia, 2006); Cabelos molhados (Contos. Ministério da Educação e Cultura, 2006); Noites de sábado e outras crônicas cariocas (Editora Leitura, 2007); Grande homem mais ou menos – contos (Bertrand Brasil, 2007; Fundação Catarinense de Cultura, Prêmio Cruz e Souza 2002)

 Para o público infanto-juvenil : O bravo soldado meu avô (Ed. Antares; 1984; Ediouro, 1995); Um menino chamado Asterisco (Globo, 1985; José Olympio, 1993); Hora do recreio (Antares, 1985; 2ª Edição, Myrrha, 2004); O ritmo da centopéia (Globo, 1986); Uma noite a coruja (Antares, 1986); Meninos de roça, cantigas de roda (Globo, 1987). Bié doente do pé  (Ao Livro Técnico); A fuga do cavalinho vermelho (José Olympio, 1989); Bié e a grande viagem (Ao Livro Técnico, 1992); Uma vez uma avó (Editora Lê, 1992); Bicho solto (Ed. Do Brasil, 1992); As roupas do papai foram embora (Ed. Record, 1992); A revolta dos dedos (Ao Livro Técnico, 1993); O chapéu de quatro pontas (Ao Livro Técnico, 1993); História do Bode Zé Pilão (Ao Livro Técnico, 1993); O peixinho do São Francisco (Agir, 1994); A gente precisa conversar (Ed. Lê, 1995); Incrível tribo pé-no-traseiro (Ao Livro Técnico, 1996); Barbas de molho (Ed. Dimensão, 1998); Sem essa de guerra (Ed. Coqueiro, 2003); O mosquito elétrico (Myrrha, 2004); Cantigas de ninar homem (Bertrand Brasil, 2005); Todas as cores do mar (Global Editora, 2007); Luiz Gonzaga (Moderna, 2007).