A arte de Graça Ramos e poemas de Damário Dacruz

A artista plástica Graça Ramos no Pouso da Palavra, em Cachoeira, pintando o retrato do seu amigo Damário Dacruz.

A foto é de George Lima e foi gentilmente disponibilizada pelo mesmo para ilustrar o post em homenagem ao saudoso Poeta.

Todo risco

A possibilidade de arriscar
É que nos faz homens
Vôo perfeito
no espaço que criamos
Ninguém decide
sobre os passos que evitamos
Certeza
de que não somos pássaros
e que voamos
Tristeza
de que não vamos
por medo dos caminhos.

Anzol

Angustiado olhar
do peixe capturado.
Angustiado olhar
do peixe
na mesa do mercado.
O amor, às vezes,
tem esse olhar
de quem vacila prisioneiro
quando tudo é mar.

Outros jardins  

Borboletas
são flores
que decidiram
ganhar o mundo.

 

 Insistência

Os amores impossíveis
sabem dos seu destinos.
Os amores impossíveis
insistem como beija-flores
na busca incessante
do néctar invisível.
Os amores impossíveis
estão sempre fora da rota
mas acreditam que chegarão

Caixa – preta

Sou um homem.
Portanto,
mais que palavra.

Não pronuncio
o sentimento
apenas como palavra.

O que foi dito
ao entardecer
não se confirma
na madrugada.
O que foi visto
no sonho
não se confronta
com a realidade.

Sou um homem.
Portanto,
uma surpresa.
tristeza
de que não vamos
por medo do caminho.

In Segredo das Pipas, Salvador: EPP/ BANCO CAPITAL, 2003.

 

Grande Finale

 Avise aos amigos

que preparo o último verso.

A vida

dura menos que um poema

e no alvorecer mais próximo

saio de cena.”

                    (Último poema de Damário Dacruz) 

 

 

A magia do olhar de Leo Brasileiro

Foto: Leo Brasileiro

Leonardo Aleixo Brasileiro Borges nasceu em 13 de setembro de 1977. Um nome forte, imponente e solene. Mas, apesar da sua carga sonora, ele se traduz num diminutivo: Leo.  Assim todos conhecem o jovem que observa o mundo, sem pressa.

Foto: Leo Brasileiro

Analisar o trabalho de Leo Brasileiro é uma tarefa que exige tempo e reflexão, pois o que ele capta com a sua máquina é pura poesia. A força e a beleza das imagens contidas nos flagrantes que registra, não carecem de palavras para defini-las. Os olhos são capazes de traduzi-las em qualquer idioma.

 Foto: Leo Brasileiro

Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Leo Brasileiro cursou urbanismo, paisagismo e jardinagem na Universidade Politécnica de Valência, na Espanha. Embora suas atividades estejam voltadas para a arquitetura, ele não se afasta de outras paixões da sua vida: a fotografia, a música e o design. Foi um dos sócios fundadores da Vogal Design e sua mais significativa atuação como músico aconteceu entre 2005 e 2008, período em que ajudou a fundar e atuou como baixista da banda Tagua.

Baiacu – Barcos

Segundo seu pai, o poeta e artista plástico Antônio Brasileiro, quando menino Leo era entusiasta, gostava de experimentações, de desenhar histórias em quadrinhos e não sentia nem um pouco de piedade pelos três porquinhos, quando fugiam do lobo mau. Depois de adulto, alguém que não se preocupa muito com o tempo que gasta na realização de um trabalho; o importante para ele é o resultado. Para a mãe, a artista plástica Nanja, Leo é um jovem sensível, observador, mas obstinado e decidido.

Foto: Leo Brasileiro

Foto: Leo Brasileiro

Num tom brincalhão Leo Brasileiro admite que “ser filho de peixe, equivale a lutar para não morrer afogado”, o que contradiz o ditado popular. A admiração que sente pelos pais é notória, embora não seja efusivo. Mas essa afirmação talvez possa justificar o seu perfeccionismo, face aos exemplos que tem em casa. Reservado, gosta de música, da natureza, escolheu a arquitetura como profissão e fez da arte o seu hobby.