Presidente da Assembléia expulsa professores em greve na Bahia

 

Os professores grevistas da rede estadual de ensino decidiram desocupar a Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) no final da tarde desta sexta-feira (20). Inicialmente, o comando de greve do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) se reuniu para debater a questão e aceitou a proposta de deixar o prédio de forma pacífica. Depois, o indicativo foi apresentado no saguão Deputado Nestor Duarte ao restante da categoria, que também concordou em se retirar da sede do Legislativo baiano.

Os docentes, que desarmaram as barracas na sequência, se dirigiram em marcha até o espelho d´água na rampa da AL-BA, onde um ato marcou a continuidade da greve, decidida em assembleia-geral pela manhã. Eles deixaram o espaço, após 94 dias – a classe foi para o prédio uma semana após iniciar a greve que já dura 101 dias –, no escuro, a cantar a música “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, ícone dos protestos antiditadura nos anos 60. Em seguida, os representantes da categoria caminharam para fazer uma manifestação na Avenida Paralela. A próxima assembleia-geral da APLB será realizada na manhã da próxima terça (24).

Fonte: Bahia Notícias

Um poema (atualíssimo) de Gregório de Matos

 

 

  Soneto

Gregório de Matos (Salvador 1636 – Recife, 26 de novembro de 1695)

 

A cada canto um grande conselheiro,

Que nos quer governar cabana e vinha;

Não sabem governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.

.

Em cada porta um bem frequente olheiro,

Que a vida do vizinho e da vizinha

Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,

Para o levar à praça e ao terreiro.

.

Muitos mulatos desavergonhados,

Trazidos sob os pés os homens nobres,

Posta nas palmas toda a picardia,

 

Estupendas usuras nos mercados,

Todos os que não furtam muito pobres:

E eis aqui a cidade da Bahia.

O Boca do Inferno, como ficou conhecido Gregório de Matos, descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia; mas o poema é atualíssimo!

Mudança de humor: inauguração, vaias, show espetacular

Ontem à noite foi inaugurado o Shopping do Horto  Bela Vista, o mais novo centro comercial de Salvador, num evento fechado para convidados. Estava muito chateada com o desfecho da negociação entre os Professores Estaduais, Ministério Público e Gogerno do Estado e quase renunciei ao evento, pois não me conformo com a intrasigência do governador, com as informações distorcidas publicadas pela imprensa e pela omissão da maioria das pessoas que não enxergam o drama da greve, tanto para os professores quanto para os alunos..

O que me tirou de casa foi o incentivo da minha filha mais velha e do meu marido, principalmente quando lembraram que a inauguração incluía uma apresentação de Caetano Veloso e do Grupo de Metais do Neojibá – Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia.

Saí de casa meio a contragosto para conhecer o novo empreendimento denominado Horto Bela Vista, complexo imobiliário composto de 19 torres residenciais e três torres comerciais, além de um hotel, clube e escola.

Nesta primeira fase, o empreendimento reúne 200 lojas, em 50 mil metros quadrados de área bruta locável. O mix apresenta operações das marcas mais consagradas dos segmentos de moda, cultura, lazer e gastronomia. Já estão previstas duas expansões para os próximos anos que aumentarão a área locável para 74 mil metros quadrados, tudo muito bonito e monumental.

Apesar de um certo mal humor comecei a me divertir quando vi no palco os três candidatos à sucessão municipal: Nelson Pelegrino (PT), Mário Kertész (PMDB) e ACM Neto (DEM), que demonstravam um certo constrangimento.

No entanto, a noite começou a ficar divertida quando a força das vaias invadiu o ambiente num evento fechado, onde a entrada foi restrita a convidados. Entre outros vaiados, o secretário estadual James Correa, da Indústria, Comércio e Mineração, pediu a palavra e explicou que estava ali para representar o governador Jaques Wagner, que se encontrava em reunião em razão da greve dos professores.

Ao pronunciar a frase ‘greve dos professores’, James Correa foi vaiado pelo público presente, que não era formado por funcionários públicos, muito menos por professores. Era visível o constrangimento do candidato do PT, Nelson Pelegrino. O pior é que o BA TV havia anunciado pouco antes que o governador não havia comparecido à reunião.

A partir daí o mal humor se dissipou e a alegria tomou conta do meu coração diante do magnifico espetáculo oferecido pela  Orquestra de Metais Neojibá e pelo sempre jovem e grande artista Caetano Veloso, que em certo momento não se conteve, reclamou do barulho e pediu mais atenção ao público presente.

Num gesto estúpido esqueci a máquina fotográfica em casa e fui obrigada a utilizar os telefones celulares dos familiares, cujas fotos nem sempre são de boa qualidade.

Mesmo assim, valeu a pena. A orquestra fez um grande espetáculo e Caetano nos brindou com clássicos do seu repertório, como Cajuina, Luz do sol, Tieta, Força estranha, e até Saudades da Bahia, do saudoso Dorival Cammi.

Deixo o registro.

Em defesa da educação: um artigo de Consuelo Novais Sampaio

O jornal A TARDE de hoje, 03 de julho, publicou o artigo “O AUTORITARISMO PREDOMINA NO GOVERNO”, da professora Consuelo Novais Sampaio. Autora de vários livros, a professora Consuelo Novais Sampaio é Doutora em História pelo The Johns Hopkins University; professora aposentada da Universidade Federal da Bahia, dirige o Centro de Memória da Bahia, da Fundação Pedro Calmon e é membro da Academia de Letras da Bahia desde 1992.

O AUTORITARISMO PREDOMINA NO GOVERNO

Consuelo Novais Sampaio

As medidas adotadas pelo governo da Bahia, através do secretario de Educação, agridem a democracia duplamente: pela intransigência substituindo o diálogo, e pelo autoritarismo, sinônimo de despotismo, substituindo a autoridade. Esta constatação se evidencia na falta de ética e de moral nos recentes atos do governo.

 A convocação de professores em estagio probatório e Reda, para substituir os professores da rede estadual, foi a mais recente tentativa de impor a autoridade pela força do poder. Queremos crer que os convocados honrarão a categoria, construtores que são da base educacional dos nossos jovens. Em contraste, os professores em greve, aguardam do governo o respeito ao direito que lhes cabe de ajuste salarial de 22,22% fixado por lei federal (11.738/08). Estão acampados no legislativo, aguardando a revogação da espúria lei estadual (12.364/11) que os engessou até a Copa de 2014. Subliminarmente, governo e legislativo dizem aos nossos jovens: larguem os livros; peguem a bola. É constrangedora a submissão do Legislativo ao Executivo, além de vivermos em 2011 aguardando 2014!

Não menos autoritária foi a propaganda enganosa, veiculada pelo governo em canal de TV, afirmando que os professores da rede pública estadual já haviam recebido ajuste salarial de 22% a 26%.! Não explicou o milagre. Recorreu ao nosso maior veículo de propaganda – tão grande que fez Lula aliar-se a um foragido da Interpol! Ao enganar o povo através da TV, o governo da Bahia assumiu o papel de Golias contra um Davi, cujo estilingue foi posto à venda em feira pública, visando a defesa de princípios básicos da educação. Depois, revivendo o Leviatã — monstro bíblico recriado por Thomas Hobbes para caracterizar as garras do Estado repressivo que se formava no século XVII — o governo da Bahia cortou o parco salário de professores indefesos. Ao invés de dialogar, preferiu humilhar. Tirar, ao invés de dar-lhes o que lhes pertence por lei federal que, constitucionalmente, se superpõe à estadual, mormente quando esta foi criada posteriormente, para a defesa de interesses circunstanciais. A humilhação a que foram submetidos os professores fortaleceu-lhes a dignidade, a honra, cujas noções transmitem aos seus alunos. É a justeza da causa que defendem — a educação, como pilar e cerne da sociedade e do próprio governo – que faz com que aguardem decisão favorável do governo.

 Pelo que tem sido exposto na mídia, deseja-se que a sórdida estratégia intentada pelo secretario de Administração (jogar funcionários públicos contra seus companheiros, lembram-se?) não faça escola. Que os professores convocados não se sintam como peças fracas e disponíveis de um exercito de reserva, das quais se lança mãos quando conveniente. Não permitam que sejam jogados contra seus colegas. O modo de ação do governo, manipulando a sociedade contra os que preparam os seus filhos para o futuro, é abominável, pela agressão, pela intransigência exacerbada.

 Nos primórdios da atual crise global, que feriu todo o sistema financeiro do planeta após a queda do Lehman Brother’s, este quarto maior banco do mundo, em desespero, reuniu-se com altos banqueiros coreanos, propondo-lhes comprar boa parte da massa podre de imóveis que, aos borbotões, eram-lhes devolvida. Convencidos que os asiáticos aceitariam sua proposta, decepcionaram-se quando, em silêncio, eles se retiraram da mesa de negociações. Correram atrás e ofereceram-lhes maiores vantagens. O líder coreano recusou. Continuou a andar e, virando a cabeça disse-lhes não se tratar de capital; apenas, concluiu, “não gostei do jeito como vocês conduziram as negociações”.

 Parafraseando o banqueiro coreano, está claro que não só os professores, mas a sociedade não gosta do “jeito como o governo está conduzindo as negociações”. A despeito da lei da Transparência e, conforme divulgado, os recursos do FUNDEB ultrapassarem 900 milhões de reais, além de vários bilhões ultimamente transferidos pelo governo federal, nada foi-nos dito sobre a aplicação de tais recursos. Que o bom senso prevaleça.

Fonte: Jornal A TARDE – 03/07/2012