“Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.”
Alberto Caeiro (Heterônimo de Fernando Pessoa)
“Eu perdí o meu medo, o meu medo da chuva
Pois a chuva voltando prá terra traz coisas do ar.”
(Raul Seixas)
“Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.”
Alberto Caeiro (Heterônimo de Fernando Pessoa)
“Eu perdí o meu medo, o meu medo da chuva
Pois a chuva voltando prá terra traz coisas do ar.”
(Raul Seixas)
Dentro de mim mora um anjo
(Sueli Costa/Cacaso)
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que tem a boca pintada
Que tem as unhas pintadas
Que tem as asas pintadas
Que passa horas à fio
No espelho do toucador
Dentro de mim mora um anjo
Que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
Montado sobre um cavalo
Que ele sangra de espora
Ele é meu lado de dentro
Eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que arrasta suas medalhas
E que batuca pandeiro
Que me prendeu em seus laços
Mas que é meu prisioneiro
Acho que é colombina
Acho que é bailarina
Acho que é brasileiro
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Texto de Elisa Lucinda
Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo duramente para educar os meninos mais pobres que eu, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: “Não roubarás”, “Devolva o lápis do coleguinha”, Esse apontador não é seu, minha filhinha”.
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha ouvido falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba” e eu vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!
Elisa Lucinda
Elisa Lucinda nasceu em Vitória, no Espírito Santo, onde se formou em jornalismo e chegou a exercer a profissão. Em 1986, mudou-se para o Rio de Janeiro disposta a seguir a carreira de atriz e ingressou no Curso de Interpretação Teatral da Casa de Artes de Laranjeiras. Trabalhou em algumas peças, como “Rosa, um Musical Brasileiro”, sob direção de Domingos de Oliveira, e “Bukowski, Bicho Solto no Mundo”, sob direção de Ticiana Studart. Integrou, o elenco de vários filmes, entre eles “A Causa Secreta”, de Sérgio Bianchi e também fez novelas e séries para a televisão. Além de escritora, Elisa Lucinda é professora universitária, atriz de teatro, televisão e cinema.
“O homem que se entrega inteiro ao silêncio
nunca se doa inteiro
em palavras.
Eterno peregrino em seu próprio silêncio”
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“L’homme qui s’adonne tout entier au
silence ne se donne jamais tout entier
en paroles
Éternel voyageur en son propre silence”
Michel Camus. Proverbes du silence et de l’émerveillement. (Collection Terre de Poésie, Editions Lettres Vives) P.41.
Leni David
Puedo escribir los versos mas tristes esta noche…
Versos na tarde madrilense.
Um poeta solitário
de negro
no Parque do Retiro.
Ar pesado, mormaço,
um lemon granizado sobre a mesa
mãos que buscam a mão do companheiro…
casais de namorados,
velhos sem pressa
que passam
acordes de um realejo…
A tarde finda
prenhe de poesia:
vinte poemas de amor e uma canção desesperada;
o pensamento
solto em fantasia,
os olhos fixos
nas águas calmas do lago
onde se espelha o Palácio de Cristal.
Publicado Revista Hera, n° 20.
Feira de Santana: Edições Cordel, 2005, p. 36