Ao poder quem pode se apega.
Dois pratos, nenhum equilíbrio.
Visível mesmo é o muro divisor.
Uma justiça que se diz cega,
carece do escuro e nele permanece
Cyro de Mattos
Ao poder quem pode se apega.
Dois pratos, nenhum equilíbrio.
Visível mesmo é o muro divisor.
Uma justiça que se diz cega,
carece do escuro e nele permanece
Cyro de Mattos
Soneto
Gregório de Matos (Salvador 1636 – Recife, 26 de novembro de 1695)
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
.
Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
O Boca do Inferno, como ficou conhecido Gregório de Matos, descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia; mas o poema é atualíssimo!
CONCERTO P/ FLAUTA E COPOS DE CRISTAL
Passarei minha vida olhando aquela montanha,
a esperar que ela se mova.
Não se moverá, tenho certeza,
mas passarei minha vida diante dela.
Antonio Brasileiro
“A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa… e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita..”
Mário Quintana
TOADA
Antonio Brasileiro
Pertencemos ao Universo,
mas o Universo é inventado.
Vamos saindo de lado,
porque o mundo é invertido.
Mas o mundo é divertido
e nós somos o inverso:
sérios, casmurros, contidos
como um bicho de seis lados –
quatro lados embutidos,
os outros dois atolados.
Entro na perna do pinto,
saio na perna do pato.
Quem quiser, me conte cinco.